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domingo, 18 de abril de 2010

Marcas do Novo Nascimento - J. C. Ryle (1816–1900) Continuação 3

6. A sexta marca do novo nascimento é ... humildade.

Era isso que Davi pretendia dizer em Salmos131: “Como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma”
Era isso que nosso Senhor tinha em mente quando disse que é necessário que sejamos convertidos e que nos tornemos como crianças (Mt 18.3).
=> O orgulho é o pecado que incomoda persistentemente todo homem natural e aparece em centenas de modos diferentes.
=> Foi por causa do orgulho que anjos caíram e tornaram-se demônios.
=> É o orgulho que leva muitos pecadores ao abismo; eles sabem que estão errados no que se refere ao cristianismo, mas são muito orgulhosos para curvarem a cerviz e agirem de acordo com o que sabem.
=> É o orgulho que sempre pode ser visto nos falsos mestres; eles dizem:“Somos os tais, só nós sabemos o que é certo e temos o verdadeiro caminho para o céu”. Logo eles caem, voltam ao lugar de onde vieram e não se ouve mais a respeito deles.
Mas aquele que é nascido de novo veste-se de humildade; tem um espírito de criança, contrito e humilde.
O humilde:
=> Tem um profundo senso de sua fraqueza e pecaminosidade e um grande medo de cair em pecado. Você jamais o ouve professando confiança em si mesmo e vangloriando-se de seus próprios feitos.
=> Ele está muito mais disposto a duvidar de sua própria salvação e chamar a si mesmo de “principal dos pecadores”.
=> Ele não tem tempo para achar falhas nos outros ou se intrometer na vida dos vizinhos. Para ele basta o conflito com sua própria carne enganosa...
=> Nenhum inimigo é tão mordaz para ele quanto sua corrupção inata.
Sempre vejo um homem que gasta seu tempo achando defeitos em outras igrejas e falando da alma das outras pessoas e não da sua, sempre penso: “Não há obra do Espírito nesse homem”. É esta humildade e este senso de fraqueza que fazem dos filhos de Deus homens de oração. Eles sentem suas próprias necessidades e sua situação de perigo, e são compelidos a suplicar continuamente Àquele que lhes deu o Espírito de adoção, clamando: “Aba, Pai, ajuda-nos e livra-nos do mal”.

7. A sétima marca do novo nascimento é um grande prazer em todos os meios da graça.
Pedro fala sobre isso em sua primeira epístola: “Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento” (1 Pe 2.2). Este foi o pensamento de Davi quando disse: “Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade” (Sl 84.10).
Ah! Que diferença existe entre a natureza e a graça neste assunto! O homem natural tem muitas vezes uma forma de cristianismo; não negligencia as ordenanças do cristianismo, mas de um modo ou de outro, o tempo, a sua saúde ou a distância conseguem ser um grande obstáculo para ele. E, com muita freqüência, as horas que ele passa na igreja ou com sua Bíblia são as mais enfadonhas de sua vida.
Mas quando um homem nasce de novo, começa a descobrir sobre os meios da graça uma realidade que ele não percebia antes. O domingo não parece mais um dia monótono e enfadonho, no qual ele não sabe como gastar seu tempo de maneira decente. Agora, ele o chama de deleite e privilégio, um dia santo do Senhor e digno de honra. As dificuldades que antes o afastavam da casa de Deus agora parecem ter desaparecido; o horário do jantar, o tempo e coisas semelhantes nunca o detêm em casa; ele não se alegra mais em desculpas para não ir. Os sermões parecem mil vezes mais interessantes do que antes. Ele estará bem atento e não dormirá durante a pregação, tal como um prisioneiro durante seu julgamento. E, acima de tudo, a Bíblia lhe parece um novo livro. Acabou o tempo em que ela era uma leitura estéril para sua mente. Talvez ficasse num canto, empoeirada e raramente fosse lida, mas agora é examinada e considerada como o próprio pão da vida.
Muitos são os textos e passagens que parecem ter sido escritos para o nascido de novo, e muitos são os dias em que ele sente disposição de dizer, com Davi: “Para mim vale mais a lei que procede de tua boca do que milhares de ouro ou de prata” (Sl 119.72).
8. A oitava e última marca do novo nascimento é amor pelos outros.
“Todo aquele”, disse João, “que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (1 Jo 4.7-8).
Aquele que nasceu do Espírito ama o seu próximo como a si mesmo... ama o que pertence ao seu próximo como se fosse dele mesmo; não o prejudicaria nem ficaria quieto se alguém lhe causasse danos. Ama a pessoa de seu próximo como a sua própria pessoa e não acharia incômodo o poder ajudá-lo ou o socorrê-lo. Ama o caráter de seu próximo como o seu próprio caráter; não falará contra ele, nem permitirá que seja maculado por mentiras, se puder defendê-lo. O nascido de novo ama a alma de seu próximo como a sua própria alma e não suportará vê-lo virar as costas para Deus, sem empenhar-se por detê-lo, dizendo: “Não... não façais semelhantes mal” (Jz 19.23).
Oh! que lugar feliz seria a terra, se houvesse mais amor! Que os homens creiam que o evangelho assegura o maior conforto na vida presente, bem como na vida por vir!
Estas, amados, são as marcas pelas quais pode-se reconhecer o novo nascimento na alma de um homem. Tivemos de falar sobre elas de um modo muito breve, embora cada uma delas mereça um sermão...
“Eu me arrependi verdadeiramente?
Já me uni a Cristo e O aceitei como meu único Salvador e Senhor?”
Que estas perguntas predominem em sua mente, se você quer saber se nasceu de novo ou não. As seis últimas marcas — isto é: santidade, mente espiritual, vitória sobre o mundo, humildade, prazer em todos os meios da graça e amor — têm esta peculiaridade: a família e os vizinhos de um homem vêem melhor do que ele mesmo se ele possui essas marcas. Mas todas elas provêm das duas primeiras; portanto, insisto novamente que você lhes dedique maior atenção.
J. C. Ryle (1816–1900): bispo anglicano, autor de Santidade Sem a Qual Ninguém Verá o Senhor e Meditações nos Evangelhos (editados pela Editora Fiel), e muitos outros. Nasceu em Macclesfield, Cheshire County, Inglaterra.‑