Páginas

domingo, 26 de dezembro de 2010

Qual o motivo mais importante para o Arrependimento?

 
 

"Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo" (Jo 16.8)

  Charles Haddon Spurgeon

 
 

"E derramarei sobre a família de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de ação de graças e de súplicas. Olharão para mim, aquele a quem traspassaram, e chorarão por ele como quem chora a perda de um filho único, e se lamentarão amargamente por ele como quem lamenta a perda do filho mais velho." (Zc 12.10)

O quebrantamento santo que faz um homem lamentar o seu pecado surge de uma operação divina.

O homem caído não pode renovar seu próprio coração. O diamante pode mudar seu próprio estado para tornar-se maleável, ou o granito amolecer a si mesmo, transformando-se em argila? Somente aquele que estendeu os céus e lançou os fundamentos da terra pode formar e reformar o espírito do homem. O poder de fazer que da rocha de nossa natureza fluam rios de arrependimento não está na própria rocha. O poder jaz no onipotente Espírito de Deus... Quando Deus lida com a mente do homem, por meio de suas operações secretas e misteriosas, Ele a enche com uma nova vida, percepção e emoção."Deus... me fez desmaiar o coração"
(Jó 23.16),
 disse Jó. E, no melhor sentido, isso é verdade. O Espírito Santo nos torna maleáveis e nos tornamos receptíveis às suas impressões sagradas... Agora, quero abordar o âmago e a essência de nosso assunto.

O amolecimento do coração e o lamento pelo pecado são produzidos por olharmos, pela fé, para o Filho de Deus traspassado.

A verdadeira tristeza pelo pecado não acontece sem o Espírito de Deus. Mas o Espírito de Deus não realiza essa tristeza sem levar-nos a olhar para Jesus crucificado. Não há verdadeiro lamento pelo pecado enquanto não vemos a Cristo... Ó alma, quando você chega a contemplar Aquele para quem todos deveriam olhar, Aquele que foi traspassado, então seus olhos começam a lamentar aquilo pelo que todos deveriam chorar — o pecado que imolou o seu Salvador!


 

Não há arrependimento salvífico sem a contemplação da cruz.

O arrependimento evangélico é o único arrependimento aceitável. E a essência desse arrependimento é olhar para Aquele que foi moído pelos pecados... Observe isto: quando o Espírito Santo realmente opera, Ele leva a alma a olhar para Cristo. Nunca uma pessoa recebeu o Espírito de Deus para a salvação, sem que tenha recebido dEle o olhar para Cristo e o lamentar por seus pecados.


 

A fé e o arrependimento são gerados e prosperam juntos. 

Ninguém deve separar o que Deus uniu! Ninguém pode arrepender-se do pecado sem crer em Jesus, nem crer em Jesus sem arrepender-se do pecado. Olhe, então, com amor para Aquele que derramou seu sangue, na cruz, por você. Por meio desse olhar, você obterá perdão e quebrantamento. Quão admirável é o fato de que todos os nossos males podem ser curados por um único remédio: "Voltem-se para mim e sejam salvos, todos vocês, confins da terra; pois eu sou Deus, e não há nenhum outro." (Is 45.22)


Contudo, ninguém olhará para Cristo sem que o Espírito de Deus o incline a fazer isso.
 Ele não conduz uma pessoa à salvação, se ela não se rende às suas influências e não volve seu olhar para Jesus.

O olhar que nos abençoa, produzindo quebrantamento de coração, é o olhar para Jesus como Aquele que foi traspassado.

Quero me demorar nisso por um momento. Não é somente o olhar para Jesus como Deus que afeta o coração, mas também olhar para este mesmo Senhor e Deus como Aquele que foi crucificado por nós. Vemos o Senhor traspassado, e, em seguida, inicia-se o traspassamento de nosso coração. Quando o Espírito Santo nos revela Jesus, os nossos pecados também começam a ser expostos...

Venham, almas queridas, vamos juntos à cruz, por um pouco, e notemos quem era Aquele que recebeu a lança do soldado romano. Olhe para o seu lado e observe aquela terrível ferida que atingiu seu coração e desencadeou um duplo fluxo de sangue. O centurião disse: "Verdadeiramente este era Filho de Deus" (Mt 27.54). 

Aquele que, por natureza, é Deus e governa sobre tudo, sem o Qual "nada do que foi feito se fez" (Jo 1.3), tomou sobre Si mesmo nossa natureza e se tornou homem, como nós, mas não tinha qualquer mácula de pecado. E, vivendo em forma humana, foi obediente até à morte, morte de cruz.
Foi Ele quem morreu! Ele, o único que possui a imortalidade, condescendeu em morrer! Ele, que era toda a glória e poder, sim, Ele morreu! Ele, que era toda a ternura e graça, sim, Ele morreu! Infinita bondade esteve pendurada na cruz! Beleza indescritível foi traspassada com uma lança! Essa tragédia excede todas as outras! Por mais perversa que tenha sido a ingratidão do homem em outros casos, a sua mais perversa ingratidão se expressou no caso de Jesus! Por mais horrível que tenha sido o ódio do homem contra a virtude, o seu ódio mais cruel foi manifestado contra Jesus! No caso de Jesus, o inferno superou todas as suas vilezas anteriores, clamando:

"...Este é o herdeiro. Venham, vamos matá-lo, e tomar a sua herança" (Mt21.38)

Deus habitou entre nós, e os homens não O aceitaram. 

Visto que o homem foi capaz de traspassar e matar o seu Deus, ele cometeu um pecado horrível. O homem matou o Senhor Jesus Cristo e O traspassou com uma lança! Nesse ato, o homem mostrou o que fariam com o próprio Eterno, se pudesse chegar até Ele. O homem é, no coração, assassino de Deus. Ele se alegraria se Deus não existisse. Ele diz em seu coração: "Não há Deus" (Sl 14.1). Se a sua mão pudesse ir tão longe quanto o seu coração, Deus não existiria nem mesmo por mais uma hora. Isto dá ao traspassamento de nosso Senhor uma forte intensidade de pecado: foi o traspassamento de Deus.

Por quê?

Por que razão o bom Deus foi assim perseguido? 

Oh! pelo amor de nosso Senhor Jesus Cristo, pela glória de sua Pessoa, pela perfeição de seu caráter, eu lhe peço — admire-se e envergonhe-se de que Ele foi traspassado! Não foi uma morte comum. Aquele assassinato não foi um crime comum. Ó homem, Aquele que foi traspassado com a lança era o seu Deus! Na cruz, contemple o seu Criador, o seu Benfeitor, o seu melhor Amigo!

Olhe firmemente para Aquele que foi traspassado e observe o Sofredor que é descrito na palavra "traspassado". Nosso Senhor sofreu severamente e sofreu terrivelmente. Não posso, em uma mensagem, descrever a história de seus sofrimentos:

  • as tristezas de sua vida de pobreza e perseguição;
  • as angústias do Getsêmani e do suor de sangue;
  • as tristezas de seu abandono, traição e negação;
  • as tristezas no palácio de Pilatos;
  • os golpes de chicotes, o cuspe e o escárnio;
  • as tristezas da cruz, com sua desonra e agonia...


     

    Nosso Senhor foi feito maldição por nós. A penalidade do pecado ou o que lhe era equivalente, Ele a suportou, "carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados" cf. (1 Pe 2.24). "...o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is 53.5)

Irmãos, os sofrimentos de Jesus devem amolecer nosso coração! Hoje, lamento o fato de que não me entristeço como deveria. Acuso a mim mesmo daquele endurecimento de coração que eu condeno, visto que posso contar-lhes essa história sem amolecimento de coração. Os sofrimentos de meu Senhor são indescritíveis. Examinem e verifiquem se já houve tristeza semelhante à de Jesus! A sua tristeza foi abismal e insondável... Se você considerar firmemente a Jesus traspassado por nossos pecados e tudo que isso significa, seu coração se dilatará! Mais cedo ou mais tarde, a cruz desenvolverá todo sentimento que você será capaz de produzir e lhe dará capacidade para mais. Quando o Espírito Santo põe a cruz no coração, o coração se dissolve em ternura... A dureza de coração desaparece quando, com profundo temor, contemplamos a Jesus sendo morto.

Devemos também observar quem foram os que traspassaram a Jesus. "Olharão para aquele a quem traspassaram." Ambos os verbos se referem às mesmas pessoas. Nós matamos o Salvador, nós que olhamos para Ele e vivemos... No caso do Salvador, o pecado foi a causa de sua morte. O pecado O traspassou. O pecado de quem? Não foi o pecado dEle mesmo, pois Ele não tinha pecado, e nenhum engano se achou em seus lábios. Pilatos disse: "Não vejo neste homem crime algum" (Lc 23.4). Irmãos, o Messias foi morto, mas não por causa dEle mesmo. Nossos pecados mataram o Salvador. Ele sofreu porque não havia outra maneira de vindicar a justiça de Deus e de prover-nos um escape da condenação. A espada, que deveria cair sobre nós, foi despertada contra o Pastor do Senhor, contra o Homem que era o Companheiro de Jeová (Zc 13.7)... Se isso não quebranta nem amolece nosso coração, observemos por que Ele foi levado a uma posição em que poderia ser traspassado por nossos pecados. Foi o amor, poderoso amor, nada mais do que o amor, que O levou até à cruz. Nenhuma outra acusação Lhe pode ser atribuída, exceto esta: Ele era culpado de amor excessivo. Ele se colocou no caminho do traspassamento, porque resolvera salvar-nos...
Ouviremos isso, pensaremos nisso, consideraremos isso e permaneceremos apáticos? Somos piores do que os brutos? 
Se Deus, o Espírito Santo, está agindo agora, uma contemplação de Cristo derreterá o nosso coração de pedra...

Quero dizer-lhes ainda, ó amados: quanto mais olharmos para Jesus crucificado, tanto mais lamentaremos o nosso pecado. A reflexão crescente produzirá sensibilidade crescente. Desejo que olhem muito para Aquele que foi traspassado, para que odeiem cada vez mais o pecado. Livros que expõem a paixão de nosso Senhor e hinos que cantam a sua cruz sempre foram bastante queridos pelos crentes piedosos, por causa de sua influência sobre o coração e a consciência deles. Vivam no Calvário, amados, até que viver e amar se tornem a mesma coisa. Diria também: olhem para Aquele que foi traspassado, até que o coração de vocês seja traspassado.


 

Um antigo teólogo dizia: "Olhe para a cruz, até que tudo que está na cruz esteja em seu coração". E acrescentou: "Olhe para Jesus, até que Ele olhe para você". Olhem com firmeza para sua Pessoa sofredora, até que Ele pareça estar volvendo sua cabeça e olhando para você, assim como o fez com Pedro, que saiu e chorou amargamente. Olhe para Jesus, até que você veja a si mesmo. Lamente por Ele, até que lamente por seu próprio pecado. Ele sofreu em lugar, em favor e em benefício de homens culpados. Isso é o evangelho. Não importa o que os outros preguem, "nós pregamos a Cristo crucificado" (1 Co 1.23). Sempre levaremos a cruz na vanguarda. A essência do evangelho é Cristo como substituto do pecador. Não evitamos falar sobre a doutrina do Segundo Advento, mas, antes e acima de tudo, pregamos Aquele que foi traspassado. Isso levará ao arrependimento evangélico, quando o Espírito de graça for derramado.

 
 

Extraído do sermão matinal de domingo 18 de setembro de 1887, no Tabernáculo Metropolitano de Londres.

Tradução: Pr. Wellington Ferreira

domingo, 4 de julho de 2010

Comentário de Calvino aos Gálatas ~ Colossenses




Uma Nota Sobre o Comentário de Calvino aos Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses

Queridos amigos, neste espaço coloco esta nota que foi retirada do Blog da Fiel também com o objetivo de esclarecer a respeito desta publicação que logo teremos também aqui no Japão.

Abaixo a transcrição escrita por Franklin Ferreira.

Seu amigo de sempre,

Pr. Carlos Nagaoka –
http://www.lojafieljp.com/

Recentemente recebi um e-mail onde foi questionada a “publicação de Gálatas Efésios, Filipenses e Colossenses num único volume, uma vez que a editora publicou Gálatas e Efésios em separado”. O irmão em questão comentou que já havia adquirido o comentário de Efésios e “já tinha o de Gálatas pela Parakletos”. Como a indagação deste irmão é muito pertinente, publicamos aqui a reposta que enviei a este irmão.
————————————
Em agosto de 2007 comecei a trabalhar na Editora Fiel. Fui convidado para trabalhar especificamente com o lançamento das obras de João Calvino. Antes da minha chegada, a Fiel lançou dois comentários, Gálatas e Efésios. Estes dois comentários foram simples reimpressões dos comentários que a Parakletos lançou em meados da década de 1990. Já naquela época, a Parakletos começou a relançar novas edições destes comentários, no caso, Romanos e 1Coríntios. Estas novas edições, diferentes das anteriores, continham centenas de ricas notas de rodapé e o texto latino, ao lado do texto em português (isto é explicado numa nota editorial que acompanha a edição de Romanos de 2001).




Com minha chegada à editora Fiel, o processo original foi retomado, isto é, a partir de agora somente serão lançados comentários neste novo padrão, com notas de rodapé, texto latino e eventuais apêndices ou ajudas (como pode ser visto nas imagens acima), seguindo a edição-padrão das obras de Calvino lançadas pela Baker Book House, e não a edição simplificada da Eerdmans, que era o padrão anterior. É preciso deixar claro que não há nenhuma previsão para lançar Filipenses e Colossenses separadamente, pois ao preparar estes comentários para publicação, descobrimos que nunca se intencionou lançar os quatro (Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses) separadamente. Então, além de termos uma nova edição de Gálatas e Efésios, voltamos ao formato original, desejado por João Calvino, lançando os quatro em conjunto.




Também se deve considerar que os quatro comentários lançados em conjunto ficaram bem mais em conta, financeiramente, para o leitor, do que lançar os quatro comentários separadamente.

Concluindo, a partir de agora, só serão lançados comentários inéditos e neste novo formato. Hebreus, que havia sido lançado previamente pela Parakletos, será relançado pela Fiel até o fim do ano; mas, agora, como uma nova edição, contendo o texto latino, centenas de notas de rodapé e ainda cerca de quarenta apêndices, que não foram previamente publicados quando este material foi lançado originalmente pela Parakletos em meados de 1990. Quer dizer, não estamos mais fazendo reimpressões, mas lançando novas edições (o que é natural no mercado editorial, seja secular ou evangélico).




Em breve sairão Salmos v. 2 e 3 (assim como já foi lançado Salmo v. 1): no caso destes, como foram lançados originalmente pela Parakletos no padrão da edição inglesa que temos usado, são reimpressões, com capa nova, arte gráfica também nova e algumas revisões gramaticais, mas o texto permanece intacto.



Agradecemos imensamente aos nossos leitores pela compreensão, certos de que ao final todos seremos beneficiados por estas publicações.




domingo, 18 de abril de 2010

Marcas do Novo Nascimento - J. C. Ryle (1816–1900) Continuação 3

6. A sexta marca do novo nascimento é ... humildade.

Era isso que Davi pretendia dizer em Salmos131: “Como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma”
Era isso que nosso Senhor tinha em mente quando disse que é necessário que sejamos convertidos e que nos tornemos como crianças (Mt 18.3).
=> O orgulho é o pecado que incomoda persistentemente todo homem natural e aparece em centenas de modos diferentes.
=> Foi por causa do orgulho que anjos caíram e tornaram-se demônios.
=> É o orgulho que leva muitos pecadores ao abismo; eles sabem que estão errados no que se refere ao cristianismo, mas são muito orgulhosos para curvarem a cerviz e agirem de acordo com o que sabem.
=> É o orgulho que sempre pode ser visto nos falsos mestres; eles dizem:“Somos os tais, só nós sabemos o que é certo e temos o verdadeiro caminho para o céu”. Logo eles caem, voltam ao lugar de onde vieram e não se ouve mais a respeito deles.
Mas aquele que é nascido de novo veste-se de humildade; tem um espírito de criança, contrito e humilde.
O humilde:
=> Tem um profundo senso de sua fraqueza e pecaminosidade e um grande medo de cair em pecado. Você jamais o ouve professando confiança em si mesmo e vangloriando-se de seus próprios feitos.
=> Ele está muito mais disposto a duvidar de sua própria salvação e chamar a si mesmo de “principal dos pecadores”.
=> Ele não tem tempo para achar falhas nos outros ou se intrometer na vida dos vizinhos. Para ele basta o conflito com sua própria carne enganosa...
=> Nenhum inimigo é tão mordaz para ele quanto sua corrupção inata.
Sempre vejo um homem que gasta seu tempo achando defeitos em outras igrejas e falando da alma das outras pessoas e não da sua, sempre penso: “Não há obra do Espírito nesse homem”. É esta humildade e este senso de fraqueza que fazem dos filhos de Deus homens de oração. Eles sentem suas próprias necessidades e sua situação de perigo, e são compelidos a suplicar continuamente Àquele que lhes deu o Espírito de adoção, clamando: “Aba, Pai, ajuda-nos e livra-nos do mal”.

7. A sétima marca do novo nascimento é um grande prazer em todos os meios da graça.
Pedro fala sobre isso em sua primeira epístola: “Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento” (1 Pe 2.2). Este foi o pensamento de Davi quando disse: “Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade” (Sl 84.10).
Ah! Que diferença existe entre a natureza e a graça neste assunto! O homem natural tem muitas vezes uma forma de cristianismo; não negligencia as ordenanças do cristianismo, mas de um modo ou de outro, o tempo, a sua saúde ou a distância conseguem ser um grande obstáculo para ele. E, com muita freqüência, as horas que ele passa na igreja ou com sua Bíblia são as mais enfadonhas de sua vida.
Mas quando um homem nasce de novo, começa a descobrir sobre os meios da graça uma realidade que ele não percebia antes. O domingo não parece mais um dia monótono e enfadonho, no qual ele não sabe como gastar seu tempo de maneira decente. Agora, ele o chama de deleite e privilégio, um dia santo do Senhor e digno de honra. As dificuldades que antes o afastavam da casa de Deus agora parecem ter desaparecido; o horário do jantar, o tempo e coisas semelhantes nunca o detêm em casa; ele não se alegra mais em desculpas para não ir. Os sermões parecem mil vezes mais interessantes do que antes. Ele estará bem atento e não dormirá durante a pregação, tal como um prisioneiro durante seu julgamento. E, acima de tudo, a Bíblia lhe parece um novo livro. Acabou o tempo em que ela era uma leitura estéril para sua mente. Talvez ficasse num canto, empoeirada e raramente fosse lida, mas agora é examinada e considerada como o próprio pão da vida.
Muitos são os textos e passagens que parecem ter sido escritos para o nascido de novo, e muitos são os dias em que ele sente disposição de dizer, com Davi: “Para mim vale mais a lei que procede de tua boca do que milhares de ouro ou de prata” (Sl 119.72).
8. A oitava e última marca do novo nascimento é amor pelos outros.
“Todo aquele”, disse João, “que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (1 Jo 4.7-8).
Aquele que nasceu do Espírito ama o seu próximo como a si mesmo... ama o que pertence ao seu próximo como se fosse dele mesmo; não o prejudicaria nem ficaria quieto se alguém lhe causasse danos. Ama a pessoa de seu próximo como a sua própria pessoa e não acharia incômodo o poder ajudá-lo ou o socorrê-lo. Ama o caráter de seu próximo como o seu próprio caráter; não falará contra ele, nem permitirá que seja maculado por mentiras, se puder defendê-lo. O nascido de novo ama a alma de seu próximo como a sua própria alma e não suportará vê-lo virar as costas para Deus, sem empenhar-se por detê-lo, dizendo: “Não... não façais semelhantes mal” (Jz 19.23).
Oh! que lugar feliz seria a terra, se houvesse mais amor! Que os homens creiam que o evangelho assegura o maior conforto na vida presente, bem como na vida por vir!
Estas, amados, são as marcas pelas quais pode-se reconhecer o novo nascimento na alma de um homem. Tivemos de falar sobre elas de um modo muito breve, embora cada uma delas mereça um sermão...
“Eu me arrependi verdadeiramente?
Já me uni a Cristo e O aceitei como meu único Salvador e Senhor?”
Que estas perguntas predominem em sua mente, se você quer saber se nasceu de novo ou não. As seis últimas marcas — isto é: santidade, mente espiritual, vitória sobre o mundo, humildade, prazer em todos os meios da graça e amor — têm esta peculiaridade: a família e os vizinhos de um homem vêem melhor do que ele mesmo se ele possui essas marcas. Mas todas elas provêm das duas primeiras; portanto, insisto novamente que você lhes dedique maior atenção.
J. C. Ryle (1816–1900): bispo anglicano, autor de Santidade Sem a Qual Ninguém Verá o Senhor e Meditações nos Evangelhos (editados pela Editora Fiel), e muitos outros. Nasceu em Macclesfield, Cheshire County, Inglaterra.‑