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domingo, 25 de outubro de 2009

As Marcas do Novo Nascimento
J. C. Ryle (1816–1900) autor de Santidade Sem a Qual Ninguém Verá o Senhor e Meditações nos Evangelhos (editados pela Editora Fiel), e muitos outros. Nasceu em Macclesfield, Cheshire County, Inglaterra.‑

Muitas pessoas têm como certo que nasceram de novo — não sabem exatamente por que, mas é algo do que nunca duvidaram. Existem outros que desprezam toda averiguação cuidadosa sobre este assunto — têm certeza de que estão no caminho certo, crêem que serão salvos. No entanto, quanto às marcas da pessoa salva, é vil e legalista falar sobre elas; isso leva as pessoas à escravidão. Todavia, amados, não importa o que os homens digam, podemos estar certos de que o povo de Cristo é singular, não somente em seu falar, mas também em sua vida e conduta. Eles podem ser distinguidos dos não-convertidos ao seu redor. Você pode estar certo de que há traços, marcas e qualidades na obra de Deus pelos quais ela sempre pode ser identificada. Aquele que não possui evidências para mostrar pode suspeitar de que não se encontra no caminho certo. Lembre-se de que não é intenção deste artigo afirmar que todos os filhos de Deus têm os mesmos sentimentos ou que estas marcas sejam igualmente fortes e claras em cada filho de Deus.
A obra da graça no coração do homem é gradual:
....primeiro, a erva,
........depois,a espiga, e,
.............por último, o grão cheio na espiga.

É como fermento: amassa toda não é fermentada de uma vez. É como o nascimento de uma criança: primeiro ela sente aquele mundo novo, depois move-se e chora, vê, escuta, conhece coisas, ama,caminha, fala e age por si mesma. Cada uma dessas coisas acontece gradualmente, de maneira ordenada. Mas não esperamos que todas aconteçam, para dizermos que se trata de uma alma vivente. Assim também é todo aquele que é nascido do Espírito. No começo, ele pode não encontrar em si mesmo todas as marcas de Deus, mas as sementes delas estão ali. Algumas ele conhece por experiência própria; e, com o passar do tempo, todas serão conhecidas distintamente. Pelo menos, disto você pode estar certo: onde não há fruto do Espírito, ali não há obra do Espírito; e, se um homem não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Ele. Que este assunto o encoraje a examinar e provar seus caminhos! Deus não é homem para que minta. Ele não nos teria dado a Bíblia, se pudéssemos ser salvos sem ela. E este é um ensino do qual depende a vida eterna: “Não há salvação sem o novo nascimento”.

1. Em primeiro lugar: aconselho-o a memorizar uma marca que João menciona em sua primeira epístola: “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado” (1Jo 3.9); “Todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado” (1 Jo5.18); “Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu” (1 Jo 3.6). Observe que não desejo, nem por um minuto, que você suponha que os filhos de Deus são perfeitos, sem mancha ou corrupção. Não saia por aí dizendo que lhe falei que os filhos de Deus são puros como os anjos, nunca erram ou tropeçam.
O apóstolo João, na mesma epístola, declara: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós... Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1 Jo 1.8, 10).
Estou dizendo que, em se tratando de quebrar os mandamentos de Deus, todo aquele que é nascido de novo é um homem completamente novo. Ele não tem mais uma visão frívola, indiferente e leviana do pecado. Não o julga mais de acordo com a opinião do mundo. Não pensa mais que uma mentirinha, um pequeno deslize na observância de guardar o domingo, uma pequena fornicação ou um pouquinho de bebida alcoólica ou de avareza são assuntos triviais e insignificantes. Ele vê todo tipo de pecado contra Deus e contra o homem como excessivamente odioso e condenável aos olhos do Senhor. E, no que diz respeito a ele mesmo, odeia e abomina o pecado, desejando ficar completamente livre dele com todo o seu coração, mente, alma e força.
Aquele que nasceu de novo teve abertos os olhos de seu entendimento, e os Dez Mandamentos se revelam em uma luz completamente nova para ele. Sente-se surpreso com o fato de que viveu, durante tanto tempo, em descuido e indiferença quanto às transgressões e lembra os dias passados com vergonha, arrependimento e tristeza. No que diz respeito à sua rotina diária, ele não se permite cometer os pecados sobre os quais está consciente. Não faz concessões aos seus velhos hábitos e princípios, desiste deles por completo, embora isso lhe custe sofrimento, e o mundo o considere muito cerimonioso e tolo. Contudo, ele é um novo homem e não está mais ligado a coisas que amaldiçoam.
Afirmo que ele erra e encontra sua velha natureza fazendo-lhe oposição continuamente — e isso também acontece quando ninguém pode vê-lo, quando ele está sozinho; mas ele lamenta e se arrepende muito de sua fraqueza. Mas ele tem certeza disto: está em guerra contra o diabo e todos os seus feitos; e não cessa de lutar para libertar-se. Você não chama isso de mudança? Olhe para todo este mundo, este mundo perverso, observe quão poucos são os homens que pensam sobre o pecado e como é raro eles julgarem o pecado como a Bíblia o julga; como eles supõem que é fácil o caminho para o céu — e conclua se esta marca não é extraordinariamente rara. Mas, apesar de tudo isso, Deus não se deixa escarnecer. Os homens podem ter certeza de que, se não se convenceram da terrível culpa, do terrível poder e das terríveis conseqüências do pecado, se, uma vez convencidos, não fugiram para Cristo e não abandonaram o pecado, eles não nasceram de novo.

2. A segunda marca à qual chamo sua atenção é a....
Continua em breve....